O caso da possível cassação do mandato de Glauber Braga, deputado federal pelo Psol do Rio de Janeiro, ganhou destaque nacional nos últimos meses. A situação gerou diferentes opiniões, especialmente depois que o parlamentar iniciou uma greve de fome e passou noites dormindo no Congresso Nacional.
Essa estratégia ajudou a garantir mais tempo para que ele pudesse preparar sua defesa. A decisão veio após Hugo Motta, o atual presidente da Câmara, demonstrar empatia pela situação.
Depois de conseguir um prazo maior no processo, Braga anunciou que viajaria pelo país para realizar manifestações. O objetivo era reunir apoiadores e aumentar a pressão sobre o Congresso antes da decisão final sobre sua cassação.
Na última quinta-feira, 15 de fevereiro, Glauber esteve em Salvador. Ele concedeu uma entrevista exclusiva nos estúdios do Bahia Notícias.
Durante a conversa, ele falou sobre os detalhes por trás da polêmica decisão de fazer a greve de fome. O deputado também compartilhou suas expectativas sobre a manutenção de seu mandato e sua visão para o futuro da esquerda no Brasil.
Expectativas Sobre a Situação
O deputado Glauber Braga começou a entrevista expressando otimismo em relação à possibilidade de manter seu mandato. Ele acredita que a pressão sobre os parlamentares próximos a Arthur Lira, apontado como o principal responsável pela tentativa de cassação, está sendo eficaz.
Braga vê o processo contra ele como uma mistura de vingança pessoal de Lira, ex-presidente da Câmara. Seria também, em parte, uma espécie de aviso para os outros deputados.
Vale lembrar que Glauber foi quem apresentou uma denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ele alegou irregularidades na liberação de emendas parlamentares sem o devido procedimento.
Essa denúncia levou posteriormente ao bloqueio do pagamento de R$ 4,2 bilhões. Uma investigação sobre o valor foi ordenada pelo ministro Flavio Dino.
“Os aliados mais próximos de Lira o pressionam, dizendo ‘olha, sei que você quer, mas as coisas não podem ser assim'”, comentou o deputado.
Ele completou: “O preço político dessa cassação que você está tentando fazer é muito alto. Por um lado, é pessoal, porque ele não aceita que alguém reaja aos seus desmandos”.
“Mas, por outro lado, quando ele me silencia, ele está dando um recado para os demais”, opinou o parlamentar.
A Decisão da Greve de Fome
O entrevistado detalhou como tomou a decisão de começar a greve de fome. Isso aconteceu depois que a aprovação da cassação de seu mandato avançou no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.
Segundo ele, o objetivo principal de sua greve, que era chamar atenção para seu caso, foi muito bem-sucedido. A ação ajudou a criar uma pressão popular.
A greve mostrou para as pessoas que ele considerava que estava ocorrendo uma “perseguição política” contra sua atuação parlamentar.
“Aliados meus, que não sabiam que eu entraria em greve de fome, pensaram que aquilo era uma introdução”, disse ele. Isso porque ele havia anunciado que faria uma “decisão irrevogável, que não mudaria de posição”.
“Muitas pessoas falaram o seguinte: ‘ah, é para chamar atenção'”, relatou. “Era para chamar atenção mesmo. Por quê? Porque as pessoas precisavam saber o que estava acontecendo ali dentro”.
Ele argumentou que quanto menos as pessoas acompanhassem o caso, mais fácil seria para seus opositores. “Eu não estaria aqui conversando com vocês, porque eles exerceriam uma cassação sumária”, afirmou Braga.
Ele explicou que a cassação seria rápida, passando rapidamente pelo Conselho de Ética, depois pela Comissão de Constituição e Justiça e, em seguida, pelo plenário da Câmara.
“Então, cumpriu, sim, o objetivo”, dissertou o deputado. “Houve uma amplificação nacional da greve de fome com a denúncia daquilo que eu estava mostrando para as pessoas, o que estava acontecendo”.
A Escolha do Relator
A relatoria do caso de Braga no Conselho de Ética ficou com o deputado federal Paulo Magalhães (PSD). Durante a conversa, o psolista comentou a escolha do parlamentar baiano como relator.
Ele lembrou que Magalhães tem um episódio conhecido de agressão contra um jornalista, ocorrido no ano de 2001.
Na oportunidade, Glauber Braga contou que se encontrou com Magalhães momentos depois de sua defesa prévia. O encontro foi antes da escolha oficial do relator para o caso.
Ele relatou que, neste encontro, o deputado baiano manifestou um voto de apoio à manutenção de seu mandato no Psol. Segundo Glauber, Magalhães teria dito: “‘Vi a sua defesa prévia, conte comigo, não podemos deixar essa injustiça acontecer'”.
Entretanto, segundo Braga, essa “empatia” de Paulo Magalhães teria terminado após um acordo político com Arthur Lira. Ele pontuou uma contradição na atuação de Magalhães.
Braga destacou que Magalhães votou pela admissibilidade do processo contra ele no mesmo dia em que se absteve de votar a cassação de Chiquinho Brazão. Brazão é acusado de ser um dos envolvidos na morte de Marielle Franco.
“Evidentemente tem uma contradição absurda”, afirmou Braga. Ele relatou que Magalhães justificou sua abstenção no caso Brazão dizendo que “não estava ali para cassar colegas”.
Porém, Braga contrapôs que o mesmo Magalhães “trabalhou pela minha cassação no relatório”.
O Cenário da Esquerda no Brasil
O deputado também foi incentivado a refletir sobre o cenário atual da esquerda no Brasil. Ele comentou sobre o que alguns veem como um esvaziamento dos movimentos sociais no país.
Respondendo ao questionamento, Glauber ressaltou as viagens que tem feito ao redor do Brasil. Essas caravanas, segundo ele, são para defender seu mandato na Câmara.
Ele destacou que os movimentos sociais o apoiaram quando sua cassação estava sendo analisada no Conselho de Ética. A estratégia de ir para as ruas seria uma forma de não ficar “refém das relações institucionais” dentro do parlamento.
“Para além de salvar o mandato, eu quero mudar a política”, disse Braga. Ele continuou: “Para mudar a política, não posso ser um cadáver político em exercício”.
Ele explicou que a prioridade de sua atuação foi a mobilização fora do espaço institucional. Isso significa mobilizar diretamente com o povo na rua.
“Em todas as reuniões do Conselho de Ética tinha movimento social lá dentro acompanhando e cobrando”, lembrou o deputado.
Sua forma de pensar em como a esquerda pode ganhar força é “não ficar refém das relações dentro do parlamento, das relações institucionais”.
“É fazer o que a gente está fazendo agora”, avaliou Braga. “Percorrer o Brasil, conversar com as pessoas, mostrar o que está acontecendo, se mobilizar na rua”.
O Crescimento do PSOL e uma “Lacuna” na Esquerda
Com o surgimento de novas lideranças nacionais, como Erika Hilton e Guilherme Boulos em São Paulo, e também figuras locais como a ascensão de Kleber Rosa, o deputado foi questionado sobre as estratégias do Psol. A pergunta era sobre como manter a tendência de crescimento do partido.
Além disso, ele respondeu se percebe que há uma “lacuna” na esquerda brasileira atualmente.
“Falta a consolidação de um crescimento”, respondeu Glauber. Ele especificou que se trata de um crescimento “da esquerda com radicalidade política, que faça o enfrentamento à extrema-direita violenta”.
Ele acredita que, quando o partido, o Psol, se apresenta publicamente com essa posição, “você ganha o coração, ganha a mente das pessoas”. Isso ocorre porque as pessoas “querem ver candidaturas que tenham a possibilidade de falar diretamente de seus problemas cotidianos”.
Essas candidaturas, segundo ele, devem ser capazes de falar “e que não fiquem fazendo muita firula”.
“Existe uma lacuna de ampliação dessa esquerda com radicalidade”, afirmou. “Essa lacuna precisa ser preenchida”.
Ele observou que “existem muitos quadros para fazer isso” dentro do cenário político. “Mas essa não é uma realidade só do Brasil”, ponderou Glauber. “É algo que tem acontecido no mundo inteiro”.
A entrevista completa com o deputado Glauber Braga está disponível para ser conferida.