Uma assinatura contestada. Um documento sob suspeita. E agora, a Justiça quer respostas. Coronel Nunes, ex-presidente da CBF, foi convocado para depor sobre a suposta falsificação que pode mudar o comando do futebol brasileiro.
A 19ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro marcou para a próxima segunda-feira (12) a audiência com Antônio Carlos Nunes de Lima, o Coronel Nunes. O objetivo: esclarecer se sua assinatura no acordo que manteve Ednaldo Rodrigues na presidência da CBF é autêntica ou não. O desembargador Gabriel de Oliveira Zefiro, responsável pela decisão, determinou que a oitiva pode ser presencial ou por videoconferência, devido ao estado de saúde fragilizado de Nunes, de 86 anos, que enfrenta um tumor cerebral e cardiopatia grave.
O caso ganhou força após um laudo pericial assinado pela especialista em documentoscopia Jacqueline Tirotti, no último dia 4 de maio. Segundo o documento, “as assinaturas questionadas divergem do punho periciado do vice-presidente Antônio Carlos Nunes de Lima em características personalíssimas e imperceptíveis”. A perícia ainda apontou fragilidade no documento, citando a ausência de rubricas e a fixação das folhas, o que poderia facilitar alterações no conteúdo.
“Fica evidente a probabilidade de que um dos signatários, o Coronel Antônio Carlos Nunes de Lima, não estivesse apto a manifestar sua vontade no momento da elaboração intelectual e da assinatura”, destacou o desembargador Gabriel de Oliveira Zéfiro.
A suspeita de falsificação levou o vice-presidente da CBF, Fernando Sarney, a pedir a anulação do acordo que referendou a eleição de Ednaldo Rodrigues. Além disso, a deputada federal e ex-ministra do Turismo, Daniela do Waguinho (União Brasil-RJ), também protocolou pedido de afastamento imediato do dirigente no Supremo Tribunal Federal (STF). Ambos os pedidos foram negados pelo ministro Gilmar Mendes, que, apesar disso, reconheceu “graves suspeitas de vícios de consentimento” e encaminhou o caso para o TJ-RJ aprofundar as investigações Terra.
A CBF, por sua vez, se manifestou em nota oficial, defendendo a legitimidade do processo e afirmando que não teve acesso à perícia, classificando a análise como “midiática e precipitada”. Segundo a entidade, “todos os atos relacionados ao acordo mencionado foram conduzidos dentro da legalidade e com a participação de representantes devidamente legitimados”.
Entre os pontos que aumentam a tensão nos bastidores da CBF, estão:
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O laudo médico apresentado pelo chefe do departamento médico da CBF, Jorge Pagura, que indica déficit cognitivo em Nunes após cirurgia agressiva em 2023.
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A possibilidade de que o documento questionado tenha sido alterado devido à ausência de rubricas e fixação das folhas.
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A repercussão do caso, que já resultou em dois pedidos de afastamento de Ednaldo Rodrigues, ambos negados pelo STF, mas com o processo ainda em aberto no TJ-RJ.
“A convicção que se pode depreender de todas as características observadas e considerando todas as limitações intrínsecas ao presente exame é de não identificação do punho periciado de Antônio Carlos Nunes de Lima”, concluiu a perita Jacqueline Tirotti.
A audiência com Coronel Nunes pode ser decisiva para o futuro da CBF. O que será revelado? O futebol brasileiro aguarda.
A audiência está marcada para segunda-feira, 12 de maio, às 14h, na sala de sessões da 21ª Câmara de Direito Privado do Rio de Janeiro. Caso não possa comparecer presencialmente, Coronel Nunes poderá participar por videoconferência. O advogado André Mattos, diretor jurídico da CBF, foi designado para receber a intimação em nome de Nunes, devido ao seu estado de saúde.